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domingo, 3 de outubro de 2010

Brasil x Bulgária: um jogo de cartas marcadas

Por Alissa Carvalho, estudante de Jornalismo da UFC

MundialSeleção brasileira estava irreconhecível jogando com a equipe da Bulgária no Mundial de Vôlei

República Tcheca vencendo os Estados Unidos, atuais campeões olímpicos, por 3x0.  Zebra? Russos perdendo para espanhóis. Outra zebra? Bulgária derrotando o Brasil por 3x0. Mais uma?

Para quem acompanha vôlei é fácil perceber que aí tem coisa. Afinal, não é comum que seleções como EUA e Rússia percam para equipes do nível de República Tcheca e Espanha, e que o Brasil perca por 3x0, mesmo que de uma seleção como a Bulgária. Não se pode provar, porém, que tenham entregado o jogo. A questão é que, se ficassem em segundo lugar em seus grupos, essas seleções, estranhamente, cairiam em chaves mais fracas que o primeiro lugar na fase seguinte.

A explicação para isso reside no próprio regulamento do Campeonato Mundial. Na tentativa de reerguer a Itália no cenário do vôlei, dirigentes da FIVB e da Federação Italiana montaram uma tabela para facilitar o caminho dos anfitriões às semifinais. Nesse caso, devido à combinação das chaves, perder pode ser o melhor resultado.

Jogando com o regulamento debaixo do braço, as grandes equipes do vôlei mundial não cumprem aquele que deveria ser o seu papel: o de enriquecer o campeonato e torná-lo competitivo. Afinal, o que o torcedor quer ver, mesmo antes da fase de mata-mata, são jogos como o Brasil x Itália da primeira fase das Olimpíadas de Atenas, em 2004. Quem não se lembra daquele tie-break interminável? Um 33x31, num set que só ia até 15 pontos, empolga até quem não gosta do esporte.

Mas, se o regulamento permite escolher os adversários, por que não usá-lo a nosso favor, então? Perdendo hoje para a Bulgária, o Brasil escolheu enfrentar República Tcheca e Alemanha, ao invés de Cuba (para quem perdemos na primeira fase) e Espanha.

Quem perde, porém, é o voleibol e o torcedor. E, como previu Giba, "Um 3 a 0 da Bulgária, vai ser lastimável. Um assassinato ao voleibol. A gente querendo perder e a Bulgária fazendo de tudo para não ganhar. Vai ser um jogo ridículo". Foi, realmente, um jogo lastimável. De um lado, um Brasil com um oposto, Theo, no lugar do único levantador disponível, Bruninho. De outro, uma Bulgária sem três de seus titulares. Quem poupa titulares num jogo que vale o primeiro lugar do grupo? Antes do final do terceiro set, as duas equipes já somavam 45 erros, muitos deles bastante infantis. A partida terminou sob vaias e gritos de “palhaçada”. Merecidos. Mas o que fazer se o regulamento permite?

Ao montar uma tabela que beneficia o perdedor, a FIVB e a Federação Italiana arranharam a própria imagem e, principalmente, a imagem do esporte. Como sempre, quem sai prejudicado é o torcedor, que espera por jogos emocionantes e acaba assistindo a “espetáculos” como a partida de hoje entre Brasil e Bulgária.

Foto: AP

sábado, 18 de setembro de 2010

“Soberano - Seis Vezes São Paulo”: impressões

Soberano-Cartaz

Estreou nessa sexta-feira (17) em todo o país, o documentário “Soberano – Seis Vezes São Paulo”. O filme da produtora G7 Cinema tem direção de Carlos Nader, roteiro de Maurício Arruda e trilha do cantor são-paulino Nando Reis.

O filme mostra a trajetória heróica do time brasileiro ao conquistar os 6 títulos inéditos do Campeonato Brasileiro. O documentário une depoimentos de jogadores, técnicos e presidentes junto com as histórias de torcedores, que foram selecionados através de vídeos postados no site do filme.

Soberano” conta com imagens e narrações dos jogos memoráveis que fizeram do São Paulo Futebol Clube o único time brasileiro a conquistar 6 títulos nacionais, sendo os últimos três, de forma consecutiva e inédita.

Além das imagens das conquistas do Brasileiro de 1977, 1986, 1991, 2006, 2007 e 2008, há um bela homenagem ao técnico Telê Santana que comandou o time nas conquistas do Brasileiro (1991), do Paulista (1991 e 1992), da Libertadores (1992 e 1993), do Mundial Interclubes (1992 e 1993), da Recopa Sul-Americana (1993 e 1994) e da Supercopa dos Campeões da Libertadores (1993).

O documentário faz parte da campanha que o clube começou há algum tempo de conseguir mais torcedores. Segundo pesquisa realizada pelo diário esportivo, Lance! o Tricolor Paulista foi o time que mais conquistou torcedores nos últimos anos. Ganhou cerca de 3,5 milhões de torcedores em 6 anos.

O time do São Paulo é um dos clubes brasileiros mais bem sucedidos da história do país. Desde que o Campeonato Brasileiro começou a ser disputado por pontos corridos em 2003, o Tricolor sempre esteve entre os 3 melhores colocados. No ranking da Revista Placar, que calcula a soma de todos os títulos conquistados por uma equipe, o time lidera com 383 pontos.

 

HeroisHeróis são-paulinos: Telê Santana, Muricy Ramalho (técnicos), Raí (atacante) e Rogério Ceni (goleiro)

A história do time paulista sempre teve seus personagens que marcaram não só o time, mas também para o futebol brasileiro. Técnicos ranzinzas (Telê e Muricy), atacantes excepcionais (Careca, Müller e Raí) e ótimos goleiros (Gilmar, Zetti e Rogério Ceni).

O filme é cheio de histórias emocionantes. Mesmo aquele espectador que não é torcedor são-paulino ficaria arrepiado com o grito da torcida e a emoção de assistir a um gol importante. Dá para rever lances histórico do futebol nacional, gols decisivos e cenas de bastidores. Vale a pena.

 

Veja o trailer do filme:

 

Ouça um trecho da música “Soberano”, escrita por Nando Reis especialmente para a trilha do filme:

Imagens: Divulgação

domingo, 12 de setembro de 2010

A fé e a paixão de Dimas

 

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Paixão. Somente esse sentimento pode explicar o discurso empolgante do presidente Evandro Leitão na apresentação de  Dimas Filgueiras como treinador interino.

Apenas esse sentimento pode justificar a animação da torcida com o novo técnico. A necessidade de acreditar em alguma coisa que faça o Ceará encontrar novamente a vitória vedou os olhos da torcida Alvinegra.

Querem acreditar que a volta do mesmo esquema tático utilizado por PC Gusmão resolva os problemas da equipe cearense. Esqueceram-se que Estevam Soares fez justamente isso. Repetiu quase todas as estratégias do outro treinador e teve medo de inovar.

A verdade é que a fórmula criada pelo atual técnico do Vasco se esgotou há muito tempo.

As inovações tão cobradas na época de Estevam prejudicaram o trabalho de Mário Sérgio. A pressão em cima do treinador foi tão grande que ele quis promover alterações até nas regras básicas do futebol.

A razão, portanto, foi esquecida pela torcida Alvinegra. Numa análise racional, Dimas não é a melhor opção para o comando técnico do Ceará.

Porém, a razão não é predominate no futebol. A magia desse esporte é justamente movida pela paixão e pela fé. Sentimentos que Dimas tem de sobra.

São emoções que contagiam o elenco e dão forças para o time buscar a fórmula das vitórias. Confiante nessa “paixão”, o Vovô pode voltar a surpreeder na campanha do Brasileirão.

O jogo

Na noite desse domingo (12), Ceará voltou a vencer na Série. No estádio Castelão, o Alvinegro cearense venceu o Santos por 2 a 1. Os gols do Vovô foram marcados por Magno Alves e Geraldo. O gol santista foi de Keirrison.

Com a vitória, o Ceará está na décima colocação, com 28 pontos. A próxima partida do time cearense no Brasileirão acontece na quarta-feira (15), às 22h. O adversário é o Vitória e a partida acontece no estádio Barradão.

Confira os gols do Ceará:

 

 

 

 

Confira o gol do Santos:

domingo, 22 de agosto de 2010

Retranca e contradições: o medo de correr riscos

 

 

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“Ótima defesa, mas péssimo ataque.”

“Dominou a partida, mas criou poucas chances de gol.”

“O setor de criação não pode depender apenas de um meia de ligação. Tem que tirar um volante para a entrada de mais um meia que crie mais situações de gol.”

“O jogo é fora de casa. Não podemos arriscar. Vamos priorizar o setor de defesa e explorar os contra-ataques.Não adianta jogar bonito. O importante é o resultado.”

Sim! Você já ouviu muito isso. O futebol atual está repleto de treinadores que acham melhor garantir um 0 a 0 do que tentar buscar a vitória. Muitos incorporam essa filosofia de trabalho. Muitos colocam a última frase no repertório de seus discursos.

No contexto cearense, isso não é diferente. Há pouco tempo, Estevam Soares era o comandante técnico do Ceará. Para ele, desfazer-se do esquema de três volantes era algo impensável. Quando parecia que ele começaria a fazer alterações na equipe montada por PC Gusmão, Estevam foi mandado embora.

No caso do Fortaleza, a situação é ainda mais preocupante. O treinador Zé Teodoro adota um discurso totalmente contraditório. Primeiramente, ele afirma que estamos na era do Mano Menezes e, por isso, irá escalar 3 atacantes. Depois, ele monta a equipe contra o Paysandu, utilizando somente um atacante.

Qual foi o raciocínio dele? Ninguém sabe.

No 1º tempo, a escalação com apenas um atacante não funcionou, obrigando o treinador a colocar mais dois atacantes na partida. Com as alterações, o Fortaleza chegou ao empate.

Na próxima partida, não se surpreenda caso ele repita o esquema defensivo. Ora… “o que vale é o resultado… Fortaleza está invicto na competição…só venceu uma partida, mas também não perdeu.”

A verdade é que a escolha de um treinador “retranqueiro” é certamente o passaporte para se ouvir um discurso contraditório. Para quem pensa que Zé Teodoro deve deixar o comando técnico do Fortaleza em breve, não se engane. A multa de rescisão de seu contrato é de R$ 100 mil. A diretoria do Tricolor não tem dinheiro para pagar essa quantia e, ainda, contratar um novo treinador. Por esse motivo, só resta aos torcedores do Fortaleza muita fé para que o técnico cometa o mínimo de erros possíveis.

Foto: Time de Fora

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Rubinho é um fenômeno

Por Well Morais, escritor e apaixonado por automobilismo////

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Antes de mais nada, sou brasileiro, apaixonado por Fórmula 1, desportista (dos que apreciam verdadeiramente o espírito esportivo) e torcedor do Rubinho. Se você pensou: “do Rubinho?” talvez seja brasileiro, goste de Fórmula 1, mas não seja torcedor do Rubinho nem desportista. Não falo como um leigo no assunto, pois acompanho a Fórmula 1 desde 1976, quando o britânico James Hunt, da McLaren, foi campeão do mundo e teve como vice-campeão o austríaco Niki Lauda, da Ferrari.

Neste mesmo ano, o Brasil contava com três brasileiros correndo nas pistas do mundo: José Carlos Pace, Emerson Fittipaldi e Ingo Hoffmann, e eu, ainda criança, começava a me entreter com o vrham, vrham... dos carros da F1. Não vi os títulos do Emerson, mas acompanhei os títulos do Piquet e do Senna. Torci demais pelos dois. Apesar da antipatia do Piquet, eu curtia o arrojo de sua pilotagem e vibrava com suas vitórias. O Senna foi um fenômeno. Não há palavras que representem a alegria proporcionada por ele nas manhãs de sábado e de domingo. Eram manhãs mágicas. Mas o Senna se foi.

Aprendi a estar em casa em dias de Fórmula 1. Evitava festas em dias de corridas na madrugada e me apaixonei, de uma maneira irreversível, pelo ronco dos motores mais envenenados do mundo. Já assisti a dois grandes prêmios de Interlagos e digo que só depois de estar presente a uma dessas competições é que se sabe verdadeiramente o que é o ronco de um F1, ou melhor, o que é a F1.

Histórico à parte, quero destacar que sou torcedor do Rubinho e admiro o seu grande trabalho ao longo de 18 temporadas e de 11 vitórias na F1. Acompanhei durante todo esse tempo as duras críticas feitas a esse esportista brasileiro por ele não ter sido o campeão que sucederia Senna nas manhãs de domingo; como se isso dependesse apenas da vontade dele e do desejo de parte do povo brasileiro.

Pilotos como Senna, Schumacher, Prost, Emerson, Mansell, entre outros, são únicos. Não possuem sucessores. Se aparece outro de mesmo nível, não vem para substituir, mas para fazer história. Alguns, como Jacques Villeneuve (com o mesmo número de vitórias de Rubinho), foram campeões mundiais e nunca brilharam na F1, muito menos tiveram o respeito da crítica. Temos história na F1 com brasileiros que se destacaram no pódio, mas também com brasileiros que se destacaram com um sério projeto desenvolvido dentro de um cockpit. Barrichello é um destes. Ele é hoje o mais respeitado entre os pilotos e um dos mais elogiados pela crítica internacional (a brasileira só lhe atirou pedras) e pelos brasileiros que acreditam que um trabalho sério, dedicado e responsável deve ser notado e comemorado.

Defendo aqui não só o piloto Rubens Barichello, mas o homem íntegro que soube honrar um contrato de trabalho, mesmo contra a própria vontade, que soube levar, de maneira feliz, o nome do Brasil aos quatro cantos do mundo, que sempre se fez um apaixonado pelo Brasil, que defendeu dignamente as cores de seu país, que enfrentou o perigo da alta velocidade como forma de manter-se empregado para, assim, dar uma vida digna à mulher e aos filhos, que sempre se comportou alegre e simpático diante das adversidades e que soube como ninguém acertar um carro de Fórmula 1. Quem não entender isso, pode-se considerar mais um dos brasileiros que preferem que os outros burlem as obrigações e que só aceita a posição de número 1, tão excludente de grandes talentos. Um piloto que foi duas vezes vice-campeão do mundo na era Schumacher também pode ser considerado um campeão; um piloto que ocupou o cockpit de uma Ferrari durante cinco anos deve ser considerado um fenômeno.

Ouvi muita gente dizer, sobre o episódio em que Barrichello cedeu posição para Schumacher: “Se fosse o piloto tal, não aceitaria; se fosse o Senna, não aceitaria; se fosse o Massa, não aceitaria...” Íntegro como era (pelo menos em matéria de contrato), Senna faria o mesmo; embora muitos brasileiros, teimosos e fora do espírito de bom-senso, nunca aceitessem que isso pudesse acontecer. Hoje fico também indignado ao ver o Massa... é, o Massa (quem diria, né), ceder posição para Alonso. E tantos disseram: “Se fosse o Massa...” Mas também entendo que ele foi íntegro e responsável ao cumprir as regras de um contrato, assim como Barrichello o fez, comportando-se como um homem de brio e de palavra.

Rubens Barrichello é um brasileiro que merece placa. É um pai de família exemplar e um trabalhador apaixonado pelo que faz. Ele foi 5 vezes campeão brasileiro e paulista de Kart, campeão da Fórmula Inglesa, ganhou 11 grandes prêmios de F1, foi duas vezes vice-campeão mundial e é o campeão de largadas da categoria. É muita conquista. Aceite esse profissional como um legítimo representante do Brasil no mundo do esporte. Ele merece respeito e elogios.

Dá-lhes, Rubinho!

Imagem: Motorworldhype

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Caso Bruno: o reflexo do mau planejamento esportivo brasileiro


Na última semana, acompanhamos o desenrolar das informações que esclareceram os fatores relacionados ao assassinato de Eliza Samudio. Com o desenvolvimento das investigações feitas pela polícia mineira e carioca, ficou bastante claro que Bruno, ex-goleiro do Flamengo, foi o maior responsável pelo crime.

Ídolo da torcida flamenguista e atual campeão brasileiro, Bruno era um dos goleiros mais cotados para assumir a camisa número 1 da Seleção Brasileira na próxima Copa, em 2014. Porém, o jogador acabou destruindo sua carreira. Não estou aqui para repetir informações sobre o caso e nem para apontar quais os prejuízos que o jogador enfrentará no futuro. Essa postagem tem o intuito de mostrar que Bruno é o resultado de diversas falhas encontradas nas instituições esportivas brasileiras na formação de um profissional.

Quem nunca ouviu falar que o esporte é um forte instrumento de educação e de formação social da criança e do adolescente? Quem nunca ouviu falar que o esporte é um importante elemento de inclusão social? Quem nunca ouviu falar que o esporte favorece a formação ética do atleta? Sim! Tudo isso é verdade. O esporte é capaz de proporcionar todos esses benefícios ao indivíduo e à sociedade. Entretanto, isso fica difícil quando se percebe que há um grande domínio dos setores financeiros e empresariais sobre o esporte atual.

Tendo como foco o futebol, é evidente que essa grande paixão nacional está tomada pelo lucro. Qualquer jogador, por mais jovem que seja, está submetido a interesses de empresários. O futebol se comporta como uma indústria. Os interesses por um jogador só existem quando ele está rendendo lucros. Por esse motivo, um jovem já é tratado como um profissional. Ele tem horas a cumprir e tem que se dedicar exclusivamente ao seu trabalho. Caso ele queira desviar seu foco profissional para os estudos ou qualquer outra atividade, os empresários e grande parte dos clubes não irão mais se interessar pelo investimento nesse jovem.

Caso ele traga prejuízos, sua carreira está acabada. Quando surge uma mulher exigindo o recebimento de pensão alimentícia, isso significa menor concentração em campo e mais prejuízos. Ele tem que se desfazer de forma rápida de seus problemas pessoais. Se não fizer isso, o profissional é descartado como uma mercadoria qualquer. É assim que os jogadores jovens são vistos. São promessas de geração de lucro e não cidadãos que esperam por uma boa formação educacional.

O goleiro Bruno é, portanto, o produto final dessa falta de preocupação que grande parte dos clubes brasileiros possuem em relação a seus jogadores. O Vasco é uma exceção. Os jogadores da categoria de base do time carioca são obrigatoriamente matriculados num colégio do próprio clube, que funciona no estádio de São Januário. Para se manterem nas equipes de base, os atletas precisam alcançar boas notas.

Claro que essa falta de apoio das instituições esportivas não justifica as ações do jogador Bruno. Porém, casos de garotos humildes que tiveram ascensões meteóricas e que não souberam lidar com a fama e com muito dinheiro vão continuar sendo comuns, caso as instituições do futebol brasileiro permaneçam com a simples preocupação de formar bons jogadores de futebol e não pessoas.

Foto: dichavador.wordpress.com

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Futebol é muito mais do que entretenimento


"O futebol, tal como foi incorporado e praticamente reinventado no Brasil, tem muito a dizer, com sua linguagem não-verbal, sobre algumas de nossas forças e fraquezas mais profundas, ajudando a ver sob outra luz questões centrais da nossa formação e identidade. O futebol não é mero 'reflexo' da sociedade, mas tampouco se desenvolve à margem dela; é uma instância em que as linhas de força e de fuga do embate social e da construção do imaginário se apresentam de modo ao mesmo tempo claro e cifrado, como costuma acontecer com as expressões artísticas" (Trecho retirado do postal divulgado pelo Centro Cultural Banco do Nordeste, que informava o horário do debate "O Futebol e o Brasil", realizado em 2009, com as participações de José Miguel Wisnik e Ciro Câmara).

Uma das grandes dificuldades que estudantes de jornalismo enfrentam na escolha do jornalismo esportivo como principal área de atuação é o preconceito. Muitos consideram que o jornalismo de esportes, principalmente quando é especializado em futebol, reduz a capacidade de criação do profissional.

Claro que futebol é entretenimento, mas não pode ser visto, apenas, a partir dessa perspectiva. Ao analisarmos a história do desenvolvimento do futebol brasileiro, percebemos que todo o processo histórico de popularização desse esporte no Brasil esteve ligado à formação política nacional. Desde a vinda de imigrantes, que trouxeram o novo esporte ao País, até o uso da Copa de 2014 como objeto de promoção eleitoral para o PT.

A partir do futebol, é possível fazer uma análise estrutural do Brasil. Será que é por acaso que os jogadores brasileiros são bastante talentosos? Será que é coincidência que as eleições brasileiras estejam programadas para o mesmo ano em que ocorre a Copa do Mundo?

Na Copa do Mundo de 2006, o atacante francês Henry afirmou que não possuía mais talento que os jogadores brasileiros, pois era obrigado a estudar 5 horas por dia quando era criança. Enquanto os brasileiros podiam ficar jogando futebol durante todo o dia. Até que ponto as deficiências do sistema educacional brasileiro podem contribuir para a qualidade do futebol nacional? A análise da história do Brasil mostra que os governos se preocuparam mais em formar bons atletas para a conquista de Mundiais do que em formar centros educacionais organizados que priorizassem a formação de estudiosos que levassem o desenvolvimento ao País.

É evidente que a ditadura militar se aproveitou da conquista do tricampeonato, em 1970, para propagar a ideia de que o regime ditatorial estava levando o Brasil ao reconhecimento como grande potência mundial. Segundo Carlos Heitor Cony, o período de Copa do Mundo é o único momento em que o brasileiro, que vive fora do País, é tratado como cidadão de uma nação de “primeiro mundo”. Com o processo de abertura lenta e gradual ocorrido na década de 1980, um dos mecanismos criados para iludir os eleitores nos momentos de escolha do voto foi a realização das eleições no mesmo ano em que ocorre a Copa do Mundo. Se não podiam mais manipular abertamente pela força, mecanismos ideológicos invisíveis foram criados para iludir a população.

Não se pode tratar o futebol, apenas, como entretenimento, portanto. Não podemos ignorar a importância do futebol na história do Brasil. Infelizmente, grande parte dos profissionais do jornalismo esportivo atual se atém a fatos referentes ao jogo. A maioria deles se restringe ao estudo de dados e estatísticas. Focalizam somente em irrelevantes discussões sobre lances polêmicos, gols da rodada e se esquecem de que o fenômeno “Futebol” é muito maior do que saber quem foi o jogador brasileiro mais jovem a participar de uma Copa do Mundo. Armando Nogueira, Nelson Rodrigues, Juca Kfouri e outros grandes nomes do verdadeiro jornalismo esportivo devem lamentar a trivialidade em que o futebol é tratado na maioria do programas de mesa-redonda atuais.

Qual a contribuição do jornalista esportivo para a transformação social? Ora...independente da área de atuação, o jornalista pode ter seu talento desperdiçado, quando não foge do básico. Mesmo que trabalhe na editoria de política, economia ou esporte, os jornalistas podem ter seus potenciais totalmente anulados, caso tenham medo de inovar.

Foto: ionline.pt

domingo, 2 de maio de 2010

O balé dos meninos da Vila


Será?

Por aí estão falando em um jogo heróico diante do Santo André, afinal, o Santos jogou, com apenas oito jogadores, no segundo tempo. Não é bem assim, foi uma decisão nervosa na qual o Santo André ganhou de 3 a 2, jogando com igual qualidade a do Santos, só não fez "teatrinho".

Por falar em encenação - aqui está o motivo pelo o qual venho falar sobre a final do Campeonato Paulista - Neymar e Paulo Henrique Ganso podem ter dado passos para trás na tentativa de serem convocados para a seleção.

Uma vergonha: Neymar fez do campo um tablado quando passou a cair, fingindo sofrer faltas, incitar o juiz contra a torcida e pior, jogou-se ao chão, simulando ter sofrido falta em um lance em que estava sozinho, e o juiz de costas, ninguém viu a tal falta. Quis enganar o juiz, os torcedores e as câmeras, que veem tudo, e não viram nada, quer dizer, viram, a farsa.

Ganso afogou-se ao desobedecer o treinador quando foi escolhido para ser substituído e se recusou a sair do campo, não saiu, para muitos sinal de personalidade, para outros desobediência.

Para Dunga, o que isso pode ser? Bom, para quem gosta de grupo e de disciplina certamente essas características não rimam com desobediência e farsa, pois é, os meninos passaram o campeonato dançando. Será que deram alguns passos errados e perderam o ritmo? Resposta só mesmo no próximo dia 11, dia da convocação para a seleção. Mas fica uma ressalva: parece que na seleção de Dunga, meninos ou experientes, todos têm que ter maturidade, afinal, serão jogos contra seleções mundiais, e o mundo inteiro estará na arquibancada, a plateia será bem maior.

Parece que dos olhos da Vila para os olhos do mundo está se criando uma ponte muito grande. Poderia ser uma comédia, mas está com aspectos de tragédia, os torcedores esperam que não, mas o balé tem que continuar…

Foto: Globo Esporte

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O técnico nosso de cada dia

Por Juscelino Ramos, estudante de Jornalismo da UFC

A Copa do Mundo se aproxima, conforme mostra o contador regressivo ali do lado, e a decisão do técnico Dunga, acerca de quais jogadores levar, também vai ficando cada vez mais perto de acontecer.

Bem verdade que todos nós viramos técnicos de futebol em época de Copa, todos sabemos o que fazer, sabemos quais jogadores levar, temos conhecimento da tática certa para cada jogo. Bem, são 190 milhões de maestros para reger aquela orquestra de estrelas. Todavia uma dúvida vem tomando conta da cabeça de muitos (inclusive do Dunga?): E quanto a Neymar, Ganso e Ronaldinho Gaúcho?

Sinceramente, não levaria o Neymar. Garoto jovem e com muito caminho para andar. As atitudes que toma, sem pensar, provavelmente, por mera “brincadeira”, podem acarretar situações indesejadas numa partida de Mundial, nas quais o respeito, em tese, predomina.

Ronaldinho Gaúcho deveria ter lugar cativo em todos os times do mundo, mediante o futebol apresentado nos últimos anos, mas, com as atuações instáveis que vem mostrando pelo Milan, dificilmente será convocado. Se bem que eu o chamaria para jogar a pelada de final de semana, com certeza.

Já o Paulo Henrique é, por muitos, aclamado para realmente compor o time de Dunga. O jeito moleque atrelado a um futebol de classe vem encantando vários torcedores por aí, inclusive corinthianos, palmeirenses e são paulinos. O fato é que, se convocado, teria que desbancar ninguém mais ninguém menos que o astro Kaká, que detonou no último jogo do Real.

A pergunta é: se convocado, poderiam queimar o Ganso? Bem... Não vou muito longe, não, do lado do CT do Santos, ano passado, Diego Sousa vinha apresentando um futebol de altíssimo nível pelo Palmeiras. Bastava ver os resultados e o estilo de jogo do garoto. Os dribles, o poder de decisão, a capacidade indubitável... Todos clamavam por seleção. O fato foi que ele foi para a seleção brasileira e, quando voltou, seu time alavancou uma das piores campanhas do segundo turno de 2009. Talvez não estivesse tão preparado assim? Achou que era estrela demais? Quem sabe, né?!

Acho que a meninada toda do Santos merece uma vaga na Seleção Canarinha, mas não agora. Sedentos de futebol como demonstram ser, por que não mais umas temporadas (aqui no Brasil, por favor) para que possamos avaliar o seu futebol-arte com jeito moleque? Sim, eles são capazes, mas o grupo verde-amarelo está junto há muito tempo. E quem viu 2006 sabe que futebol não é só estrelismo, mas também entrosamento. E bem... não dá para juntar o time do Santos e levar para Copa.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Os Donos da Bola


O colunista da revista Veja, Lauro Jardim, afirmou nesta quarta-feira (14) que a Câmara de Vereadores de São Paulo pretende contrariar o ato do prefeito Gilberto Kassab, que vetou o projeto de lei que proibia o término de partidas de futebol realizadas na capital depois da 23h15min. Lauro disse que a Câmara vai continuar pressionando para que o processo seja aprovado.

A verdade é que tudo que existe em nossa sociedade está rodeada por interesses particulares. No futebol, isso não é diferente. A aprovação desse projeto obrigaria a Rede Globo a mudar sua grade de programação, algo que não acontece há muito tempo. Prejudicar uma emissora que possui tanta influência sobre a sociedade é algo que muitos políticos, empresários e cartolas não querem. Além dos interesses políticos e econômicos, eles sentem medo de contrariar a emissora.

Marco Polo del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), é contra essa determinação de horário. Ele afirmou que a lei obrigaria a transferência dos jogos da capital para o interior. Isso torna evidente que os interesses privados de uma rede de televisão estão muito à frente da vontade do público, pois tirar o direito dos torcedores de irem aos jogos do time de sua cidade para não interferir na programação da Globo é algo absurdo.

A única preocupação dos que impedem a aprovação dessa lei é discutir o que é mais rentável para os clubes: a cota paga pela Globo ou a renda gerada pelos torcedores que vão aos estádios? Nunca vão questionar se os torcedores que frequentam os estádios se sentem incomodados com os horários da partida, pois o lucro é bem mais relevante para os “Donos da Bola” do que os interesses da sociedade.

O que a mídia e os cartolas não podem fazer é cobrar que a torcida assista aos jogos em paz e que não briguem com torcedores adversários, pois como disse Oliver Seitz, pesquisador do PhD em Indústria do Futebol da Universidade de Liverpool, quem é tratado como animal, age como animal. Portanto ninguém pode exigir que os torcedores não se comportem como animais, já que a classe que domina o esporte os tratam assim.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Futebol: a "mercantilização" de um esporte


Está certo! Por pouco, o Vasco não perdeu sua vaga para as semifinais do Carioca, mas é inegável que a competição estadual do Rio, há muito tempo, parece estar programada para que a disputa pelo título esteja apenas entre os quatro grandes times do Estado. Se não fosse o caráter mágico que possui o futebol, em que o inimaginável tem probabilidade de acontecer, as outras equipes não teriam chance alguma de pensar em conquistar algo no campeonato.

Não pense que esse predomínio se deve à boa estrutura e ao bom planejamento das diretorias de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. Definitivamente, isso não existe no futebol carioca. O grande problema é que os clubes do interior, para formarem boas equipes, possuem o patrocínio da prefeitura como o único financiamento verdadeiramente rentável. Quando esta não vê o futebol como prioridade, as equipes dificilmente conseguem alcançar resultados positivos.

Essa realidade não se restringe apenas ao futebol carioca. Isso ocorre principalmente nos estados que não fazem parte de fortes centros políticos e econômicos. Essa falta de competitividade acaba provocando desinteresse por parte de muitos torcedores, que voltam suas atenções, apenas, para a Copa do Brasil e Libertadores.

Um caso recente que exemplifica bem a dependência dos clubes do interior em relação às prefeituras foi a mudança de nome do Grêmio Barueri que passou a se chamar Grêmio Prudente, equipe da 1ª divisão do campeonato brasileiro e 3º colocado do Paulista 2010. A equipe mudou de nome após conflito de interesse com a prefeitura de Barueri.

Enfim, se o futebol não fosse capaz de proporcionar momentos imprevisíveis, o esporte estaria fadado ao fracasso.