quarta-feira, 28 de julho de 2010

Rubinho é um fenômeno

Por Well Morais, escritor e apaixonado por automobilismo////

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Antes de mais nada, sou brasileiro, apaixonado por Fórmula 1, desportista (dos que apreciam verdadeiramente o espírito esportivo) e torcedor do Rubinho. Se você pensou: “do Rubinho?” talvez seja brasileiro, goste de Fórmula 1, mas não seja torcedor do Rubinho nem desportista. Não falo como um leigo no assunto, pois acompanho a Fórmula 1 desde 1976, quando o britânico James Hunt, da McLaren, foi campeão do mundo e teve como vice-campeão o austríaco Niki Lauda, da Ferrari.

Neste mesmo ano, o Brasil contava com três brasileiros correndo nas pistas do mundo: José Carlos Pace, Emerson Fittipaldi e Ingo Hoffmann, e eu, ainda criança, começava a me entreter com o vrham, vrham... dos carros da F1. Não vi os títulos do Emerson, mas acompanhei os títulos do Piquet e do Senna. Torci demais pelos dois. Apesar da antipatia do Piquet, eu curtia o arrojo de sua pilotagem e vibrava com suas vitórias. O Senna foi um fenômeno. Não há palavras que representem a alegria proporcionada por ele nas manhãs de sábado e de domingo. Eram manhãs mágicas. Mas o Senna se foi.

Aprendi a estar em casa em dias de Fórmula 1. Evitava festas em dias de corridas na madrugada e me apaixonei, de uma maneira irreversível, pelo ronco dos motores mais envenenados do mundo. Já assisti a dois grandes prêmios de Interlagos e digo que só depois de estar presente a uma dessas competições é que se sabe verdadeiramente o que é o ronco de um F1, ou melhor, o que é a F1.

Histórico à parte, quero destacar que sou torcedor do Rubinho e admiro o seu grande trabalho ao longo de 18 temporadas e de 11 vitórias na F1. Acompanhei durante todo esse tempo as duras críticas feitas a esse esportista brasileiro por ele não ter sido o campeão que sucederia Senna nas manhãs de domingo; como se isso dependesse apenas da vontade dele e do desejo de parte do povo brasileiro.

Pilotos como Senna, Schumacher, Prost, Emerson, Mansell, entre outros, são únicos. Não possuem sucessores. Se aparece outro de mesmo nível, não vem para substituir, mas para fazer história. Alguns, como Jacques Villeneuve (com o mesmo número de vitórias de Rubinho), foram campeões mundiais e nunca brilharam na F1, muito menos tiveram o respeito da crítica. Temos história na F1 com brasileiros que se destacaram no pódio, mas também com brasileiros que se destacaram com um sério projeto desenvolvido dentro de um cockpit. Barrichello é um destes. Ele é hoje o mais respeitado entre os pilotos e um dos mais elogiados pela crítica internacional (a brasileira só lhe atirou pedras) e pelos brasileiros que acreditam que um trabalho sério, dedicado e responsável deve ser notado e comemorado.

Defendo aqui não só o piloto Rubens Barichello, mas o homem íntegro que soube honrar um contrato de trabalho, mesmo contra a própria vontade, que soube levar, de maneira feliz, o nome do Brasil aos quatro cantos do mundo, que sempre se fez um apaixonado pelo Brasil, que defendeu dignamente as cores de seu país, que enfrentou o perigo da alta velocidade como forma de manter-se empregado para, assim, dar uma vida digna à mulher e aos filhos, que sempre se comportou alegre e simpático diante das adversidades e que soube como ninguém acertar um carro de Fórmula 1. Quem não entender isso, pode-se considerar mais um dos brasileiros que preferem que os outros burlem as obrigações e que só aceita a posição de número 1, tão excludente de grandes talentos. Um piloto que foi duas vezes vice-campeão do mundo na era Schumacher também pode ser considerado um campeão; um piloto que ocupou o cockpit de uma Ferrari durante cinco anos deve ser considerado um fenômeno.

Ouvi muita gente dizer, sobre o episódio em que Barrichello cedeu posição para Schumacher: “Se fosse o piloto tal, não aceitaria; se fosse o Senna, não aceitaria; se fosse o Massa, não aceitaria...” Íntegro como era (pelo menos em matéria de contrato), Senna faria o mesmo; embora muitos brasileiros, teimosos e fora do espírito de bom-senso, nunca aceitessem que isso pudesse acontecer. Hoje fico também indignado ao ver o Massa... é, o Massa (quem diria, né), ceder posição para Alonso. E tantos disseram: “Se fosse o Massa...” Mas também entendo que ele foi íntegro e responsável ao cumprir as regras de um contrato, assim como Barrichello o fez, comportando-se como um homem de brio e de palavra.

Rubens Barrichello é um brasileiro que merece placa. É um pai de família exemplar e um trabalhador apaixonado pelo que faz. Ele foi 5 vezes campeão brasileiro e paulista de Kart, campeão da Fórmula Inglesa, ganhou 11 grandes prêmios de F1, foi duas vezes vice-campeão mundial e é o campeão de largadas da categoria. É muita conquista. Aceite esse profissional como um legítimo representante do Brasil no mundo do esporte. Ele merece respeito e elogios.

Dá-lhes, Rubinho!

Imagem: Motorworldhype

2 comentários:

  1. Não adianta dizer nada.
    O texto fala por si só.

    Eu estou de queixo caído.


    Se for pra dizer algo, bem...
    Brilhante escrita.
    Excepcional ponto de vista.
    Sólidos argumentos.
    Belíssimo texto.

    =]

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