domingo, 3 de outubro de 2010

Brasil x Bulgária: um jogo de cartas marcadas

Por Alissa Carvalho, estudante de Jornalismo da UFC

MundialSeleção brasileira estava irreconhecível jogando com a equipe da Bulgária no Mundial de Vôlei

República Tcheca vencendo os Estados Unidos, atuais campeões olímpicos, por 3x0.  Zebra? Russos perdendo para espanhóis. Outra zebra? Bulgária derrotando o Brasil por 3x0. Mais uma?

Para quem acompanha vôlei é fácil perceber que aí tem coisa. Afinal, não é comum que seleções como EUA e Rússia percam para equipes do nível de República Tcheca e Espanha, e que o Brasil perca por 3x0, mesmo que de uma seleção como a Bulgária. Não se pode provar, porém, que tenham entregado o jogo. A questão é que, se ficassem em segundo lugar em seus grupos, essas seleções, estranhamente, cairiam em chaves mais fracas que o primeiro lugar na fase seguinte.

A explicação para isso reside no próprio regulamento do Campeonato Mundial. Na tentativa de reerguer a Itália no cenário do vôlei, dirigentes da FIVB e da Federação Italiana montaram uma tabela para facilitar o caminho dos anfitriões às semifinais. Nesse caso, devido à combinação das chaves, perder pode ser o melhor resultado.

Jogando com o regulamento debaixo do braço, as grandes equipes do vôlei mundial não cumprem aquele que deveria ser o seu papel: o de enriquecer o campeonato e torná-lo competitivo. Afinal, o que o torcedor quer ver, mesmo antes da fase de mata-mata, são jogos como o Brasil x Itália da primeira fase das Olimpíadas de Atenas, em 2004. Quem não se lembra daquele tie-break interminável? Um 33x31, num set que só ia até 15 pontos, empolga até quem não gosta do esporte.

Mas, se o regulamento permite escolher os adversários, por que não usá-lo a nosso favor, então? Perdendo hoje para a Bulgária, o Brasil escolheu enfrentar República Tcheca e Alemanha, ao invés de Cuba (para quem perdemos na primeira fase) e Espanha.

Quem perde, porém, é o voleibol e o torcedor. E, como previu Giba, "Um 3 a 0 da Bulgária, vai ser lastimável. Um assassinato ao voleibol. A gente querendo perder e a Bulgária fazendo de tudo para não ganhar. Vai ser um jogo ridículo". Foi, realmente, um jogo lastimável. De um lado, um Brasil com um oposto, Theo, no lugar do único levantador disponível, Bruninho. De outro, uma Bulgária sem três de seus titulares. Quem poupa titulares num jogo que vale o primeiro lugar do grupo? Antes do final do terceiro set, as duas equipes já somavam 45 erros, muitos deles bastante infantis. A partida terminou sob vaias e gritos de “palhaçada”. Merecidos. Mas o que fazer se o regulamento permite?

Ao montar uma tabela que beneficia o perdedor, a FIVB e a Federação Italiana arranharam a própria imagem e, principalmente, a imagem do esporte. Como sempre, quem sai prejudicado é o torcedor, que espera por jogos emocionantes e acaba assistindo a “espetáculos” como a partida de hoje entre Brasil e Bulgária.

Foto: AP

Um comentário:

  1. Dizem que o negócio todo foi armado pra favorecer a Itália. Não duvido.

    Mas é aquela coisa... achei que o ponto de vista a ser defendido seria prezar pelo esporte, favorecer o torcedor, alimentar o espetáculo e tal... surpreendi-me.

    Defendo, sim, o estilo de jogo usado pela seleção brasileira para avançar as finais num grupo teoricamente mais fácil, afinal, o que conta não é o título?! Então!

    Podemos citar o exemplo da Copa do Mundo de 2010. Ganhamos muita coisa antes, mas chegou no pega pra capar e rodamos rápido. A seleção brasileira de vôlei fez bem em ter perdido o jogo.; Bernardinho não está no cargo por acaso. Fez o que devia ser feito. Garanto que se o Brasil for campeão, ninguém vai nem lembrar da derrota ridícula para a Bulgária.

    Foi um ato feio? Sim, foi. Manchou a carreira de muitos deles, como disse o Giba. Mas talvez tenha sido necessário.

    No final das contas, o que vale é o título. E vamo que vamo ser campeão de novo!

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